sexta-feira, 21 de outubro de 2011

do verso e da prosa

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ao contrário do A.O. (e eu gosto de reticências só em duplo, assim .. )


Bernardo Soares
Prefiro a prosa ao verso
retirado daqui: http://arquivopessoa.net/textos/4527

Prefiro a prosa ao verso, como modo de arte, por duas razões, das quais a primeira, que é minha, é que não tenho escolha, pois sou incapaz de escrever em verso. A segunda, porém, é de todos, e não é - creio bem - uma sombra ou disfarce da primeira. Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte.

Considero o verso como uma coisa intermédia, uma passagem da música para a prosa. Como a música, o verso é limitado por leis rítmicas, que, ainda que não sejam as leis rígidas do verso regular, existem todavia como resguardos, coacções, dispositivos automáticos de opressão e castigo. Na prosa falamos livres. Podemos incluir ritmos poéticos, e contudo estar fora deles. Um ritmo ocasional de verso não estorva a prosa; um ritmo ocasional de prosa faz tropeçar o verso.

Na prosa se engloba toda a arte - em parte porque na palavra se contém todo o mundo, em parte porque na palavra livre se contém toda a possibilidade de o dizer e pensar. Na prosa damos tudo, por transposição: a cor e a forma, que a pintura não pode dar senão directamente, em elas mesmas, sem dimensão íntima; o ritmo, que a música não pode dar senão directamente, nele mesmo, sem corpo formal, nem aquele segundo corpo que é a ideia; a estrutura, que o arquitecto tem que formar de coisas duras, dadas, externas, e nós erguemos em ritmos, em indecisões, em decursos e fluidezas; a realidade, que o escultor tem que deixar no mundo, sem aura nem transubstanciação; a poesia, enfim, em que o poeta, como o iniciado em uma ordem oculta, é servo, ainda que voluntário, de um grau e de um ritual.

Creio bem que, em um mundo civilizado perfeito, não haveria outra arte que não a prosa. Deixaríamos os poentes aos mesmos poentes, cuidando apenas, em arte, de os compreender verbalmente, assim os transmitindo em música inteligível de cor. Não faríamos escultura dos corpos, que guardariam próprios, vistos e tocados, o seu relevo móbil e o seu morno suave. Faríamos casas só para morar nelas, que é, enfim, o para que elas são. A poesia ficaria para as crianças se aproximarem da prosa futura; que a poesia é, por certo, qualquer coisa de infantil, de mnemónico, de auxiliar e inicial.

Até as artes menores, ou as que assim podemos chamar, se reflectem, múrmuras, na prosa. Há prosa que dança, que canta, que se declama a si mesma. Há ritmos verbais que são bailados, em que a ideia se desnuda sinuosamente, numa sensualidade translúcida e perfeita. E há também na prosa subtilezas convulsas em que um grande actor, o Verbo, transmuda ritmicamente em sua substância corpórea o mistério impalpável do universo.


Livro do Desassossego, por Bernardo Soares. (18-10-1931)
Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.


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Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças.
Bernardo Soares 




Fernando Pessoa, Carta a Adolfo Casais Monteiro
Lisboa, 13 de Janeiro de 1935
“O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas cousas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual […]”
foto e texto retirado daqui 
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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

jovens europeus: a vida em suspenso

Grécia: retrato de jovens com a vida em suspenso
Saem à rua em forma de protesto e aproveitam as potencialidades da Internet, mas sentem-se com a vida em suspenso.

Público3- notícia completa aqui

Qualquer coincidência entre as reivindicações da população mais jovem da Grécia e as da portuguesa "Geração à Rasca" não é mera coincidência. Os jovens gregos saem à rua em protesto mais vezes que os portugueses e vêem-se a braços com o mesmo tipo de dificuldades. Económicas e sociais. Emprego é o que mais falta.
O P3 conversou com quatro adultos jovens da Grécia. Todos trabalham, mas não é por isso que sentem menos na pele as dificuldades. Tomam, até, as dores de todos os outros jovens que não têm a mesma sorte.
Em comum têm diplomas universitários – às vezes mais do que um – e o sentimento de que não têm culpa nem responsabilidades na situação de crise que o seu país atravessa. Para Marianna Vasileiou, de 27 anos, os jovens gregos "não conseguem avançar". Têm a vida em suspenso, como se alguém tivesse carregado no botão de "pausa" de um telecomando e se tenha esquecido de fazer "play" de novo.

Artista visual, Evi Apostolou prefere a metáfora de que combatem "um inimigo sem rosto" que, pelas suas características globais, não lhes dá nenhuma pista de como o podem tentar combater. É uma situação "injusta", acima de tudo.

Eva Levi tem perfeita consciência da "sorte” que tem em não viver, diariamente, com a corda no pescoço. Por trabalhar no sector privado, não sente na pele, diariamente, o medo de perder o emprego. Espera um novo ano "muito mau", só suportável se se eliminarem os pequenos luxos de cada um.

Esteve fora da Grécia nos últimos dois anos e acha que os jovens gregos pouco mais podem fazer, hoje em dia, do que esperar que a crise passe. Matemático de profissão, Ioannis Papageorgiou acredita que o pior ainda está para vir, ainda que, daqui por 10 ou 15 anos, esta crise se possa transformar numa oportunidade para mudar o que está mal naquele país.
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o cérebro nosso de cada dia

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Investigação publicada na Nature Neuroscience
Estudo mostra que ser optimista está no cérebro

10.10.2011 - 15:28 Por PÚBLICO

Mesmo perante a forte possibilidade de vários cenários negativos se concretizarem, há muitas pessoas que conseguem encará-los com optimismo e desafiar a lei das probabilidades. Um estudo que acaba de ser publicado Nature Neuroscience veio mostrar que a explicação para este comportamento está no cérebro.

O estudo de um grupo de investigadores da University College London veio demonstrar que o cérebro tem uma grande capacidade de processar boas notícias sobre o futuro. No entanto, há pessoas cujo cérebro tem também a capacidade de ignorar qualquer probabilidade de vir a acontecer algo negativo, retendo apenas as memórias agradáveis.

Os autores do estudo reforçaram que o optimismo tem efeitos positivos na saúde e estimaram que cerca de 80% das pessoas são optimistas, ainda que quando confrontadas com a pergunta digam que não são.

Para a concretização do estudo, os cientistas seleccionaram 14 pessoas a quem atribuíram uma “nota” em termos de optimismo. Os integrantes da amostra foram depois submetidos a uma ressonância magnética funcional, ao mesmo tempo que lhes foi perguntada a probabilidade de 80 eventos positivos e negativos diferentes virem a acontecer nas suas vida - desde um divórcio ou um diagnóstico de cancro. No final do exame, foram confrontadas novamente com as mesmas perguntas para identificar possíveis variações nas respostas.

Os investigadores conseguiram identificar algumas diferenças na actividade cerebral dos “optimistas”, consoante eram confrontados com boas ou más notícias. O coordenador do projecto, Tali Sharot, em declarações à BBC, explicou que os lobos frontais do cérebro estão associados a alguns erros de processamento da informação, sendo que, na amostra de 14 pessoas, quando as notícias eram positivas todos mostraram mais actividade nesta zona. Perante informação negativa, os mais optimistas tinham menos actividade nesta zona, enquanto os “pessimistas” tinham mais.

Esta informação mostra que o cérebro é capaz de escolher aquilo que quer ou não ouvir e que tem uma clara tendência para ser optimista. Daí que Tali Sharot sugira, por exemplo, que campanhas que tentem passar “mensagens como fumar mata, não funcionam porque as pessoas tendem a achar que as probabilidades no seu caso são baixas.

Notícia corrigida às 18h27: o método para o registo de imagens do cérebro não foi tomografia axial computorizada, mas sim ressonância magnética funcional
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a imagem foi retirada daqui
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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

cortes cegos na educação

Orçamento para 2012
Cortes para a Educação já são o triplo do que foi recomendado pela troika
06.10.2011 - 09:14 Por Clara Viana

(...) Secretário de Estado diz que cortes anunciados pelo ministro Nuno Crato se destinam a ajustar o orçamento do sector às "possibilidades reais" do país.

O montante dos cortes no orçamento da Educação para 2012 triplica a poupança que foi recomendada no programa de ajuda externa a Portugal. O Ministério da Educação e Ciência já confirmou que serão da "ordem de grandeza" de 600 milhões de euros. O memorando de entendimento com a troika, assinado em Maio passado, apontava para uma redução de custos de 195 milhões.

Esta verba foi revista em alta, no princípio de Setembro, com o Governo a apontar para um corte de 506,7 milhões de euros. Na terça-feira, num encontro com a imprensa estrangeira, o ministro Nuno Crato acrescentou mais cem milhões. Os montantes exactos serão conhecidos quando da divulgação do Orçamento do Estado para 2012,cuja versão preliminar será aprovada hoje em Conselho de Ministros.

Ontem, nas comemorações do 5 de Outubro, o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, condenou o que considera ser "um corte cego na educação".
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terça-feira, 11 de outubro de 2011

conhecer os outros

São dois filmes - a meu ver  - admiráveis. Estórias que ressuscitam a História da Antiguidade dos Homens: a Pérsia das Mil e Uma Noites, os Fenícios das viagens por mar e do comércio de novidades, a Mesopotâmia, berço da humanidade.
Estórias de uma evolução que a maior parte de nós ignora, Líbano, Irão, e esses todos diferentes seres que somos nós , todos afinal,  tão iguais...
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O 1.º vi-o ontem em DVD, chama-se Caramel, é de uma realizadora libanesa. - sinopse aqui

Título Original: Caramel
Género: Drama
Estreia: 2008-03-06
Actores: Ismaïl Antar, Sihame Haddad, Yasmine Elmasri
Realização: Nadine Labaki
Classificação: 12
Duração: 95 min
Ano: 2007 / França

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O segundo é um filme animado de 2007, Persepolis
Sinopse
O filme conta a história de uma menina que cresce no Irão durante a Revolução Islâmica. É através dos olhos da precoce e extrovertida Marjane, de 9 anos, que vemos a esperança de um povo ser destruída quando os fundamentalistas tomam o poder, forçando as mulheres a usar o véu e mandando para a prisão milhares de pessoas. Inteligente e destemida, Marjane consegue fintar os "guardas sociais" e descobre o punk, os Abba e os Iron Maiden. Mas, quando o seu tio é cruelmente executado e as bombas começam a cair sobre Teerão durante a guerra Irão/ Iraque, o medo diário que invade o quotidiano do Irão torna-se palpável.
À medida que vai crescendo, a ousadia de Marjane torna-se uma constante fonte de preocupação para os seus pais que temem pela sua segurança. Assim, aos 14 anos, tomam a difícil decisão de a enviar para uma escola na Áustria. Vulnerável e sozinha numa terra estranha, tem que enfrentar as típicas contrariedades dos adolescentes. Além do mais, Marjane é confundida com o fundamentalismo religioso e o extremismo, exactamente as coisas de que fugiu no seu país. Com o tempo, acaba por ser aceite e até conhece o amor, mas com o fim do liceu começa a sentir-se sozinha e cheia de saudades de casa. Apesar de isso significar ter que pôr o véu e viver numa sociedade tirânica, Marjane decide regressar ao Irão para estar mais perto da sua família. Após um difícil período de ajustamento, entra para uma escola de artes e casa-se, embora continue a levantar a sua voz contra a hipocrisia a que assiste. Aos 24 anos, percebe que, apesar de ser profundamente iraniana, não pode continuar a viver no Irão. É então que toma a dilacerante decisão de trocar a sua terra natal pela França, cheia de optimismo em relação ao futuro, moldada indelevelmente pelo seu passado.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

comemoração do Dia Europeu das Línguas

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Foi objecto de adesão massiva por parte dos alunos, sobretudo os do 3.º ciclo. A celebração ocorreu no dia 26 de Setembro e assumiu formas de exposição de cartazes, 'estendal' de T-shirts e pintura de mural (fotos para breve)








terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dia do Diploma

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Ocorreu na ESAG na passada 6ª-feira, 30 de Setembro, a entrega dos diplomas de mérito aos melhores alunos dos Ensinos Básico e Secundário do ano lectivo de 2010-2011.
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Na imprensa, notícias da polémica relativa à atribuição de cheques de mérito, entretanto suspensos pelo ministro da Educação, Nuno Crato:

vídeos:

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