sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Era uma vez a confiança

no Público de 21/12/2012,

por Santana Castilho
Era uma vez a confiança

A solução para os gravíssimos problemas que nos afectam é um empreendimento colectivo. Mas todos os empreendimentos colectivos falham se a sociedade não sentir confiança. As pessoas aceitam os sacrifícios se as convencerem de que eles resolvem os problemas. Confiança e reciprocidade são palavras-chave. Infelizmente, o Governo ignora-as. 

Os portugueses estão mergulhados em sofrimento: famílias envergonhadas, lançadas numa pobreza com que nunca sonharam; velhos sem dinheiro para a farmácia; jovens sem horizontes de futuro; crianças com fome; professores sem escola; desemprego galopante; empresas falidas; assaltos violentos todos os dias. Tudo contemplado por um Governo incontinente nas nomeações políticas, imoral na distribuição de benesses, insensível, perito em abater, incapaz de erigir, que não gera confiança. 

As alterações curriculares do sistema de ensino, já aplaudidas por alguns, são uma pantomina. São a evidência da boçalidade técnica dos que as propõem. A discussão pública que se segue já morreu, por uma questão de confiança metodológica. Gente séria e competente aborda o currículo assim: primeiro estabelecem-se as metas, isto é, o ponto de chegada dos alunos a ensinar; depois definem-se os programas que podem cumprir esses objectivos; e só no fim, obviamente, se fixam as cargas horárias adequadas. Mas o ministro começou por fixar já as horas para cada disciplina e a estrutura global. Chamou a isso a primeira etapa. Anunciou que a segunda será a definição das metas. E garantiu que só mais tarde reformulará os programas. Qualquer trapalhão não faria pior. O ministro não fundamentou. Achou! E eu acho que o ministro mentiu quando afirmou que a proposta de revisão curricular não foi feita "a olhar para orçamento". Porque qualquer cidadão minimamente informado sabe que dessa revisão jamais poderia resultar um acréscimo de despesa. Porque o orçamento não era uma variável. Era um determinante. O que vem a seguir é uma farsa. As metas e os conteúdos programáticos dependerão das horas já fixadas, vergando a pedagogia e as ciências à contabilidade, da qual a Educação é, hoje, mero adereço. Crato podia, ao menos, ter sido intelectualmente honesto. Não promovendo a discussão pública de algo cujos fundamentos ainda não foram estabelecidos. Não invocando pressupostos que nunca explicitou. Ele, que sempre falou da necessidade de reduzir a dispersão curricular no ensino básico, aumentou-a no 2º ciclo. Ele, que tinha a obrigação de acomodar a decisão errada de prolongar a escolaridade obrigatória até aos 18 anos com uma reorganização curricular do secundário, particularmente no que a vias técnicas e profissionais respeita, decidiu, apenas, uma mais que questionável quebra da carga horária no 12º ano (sem olhar ao orçamento, disse). Pediu contributos públicos. Aqui tem o meu. É pena que nenhuma televisão o confronte com alguém que lhe dissesse, na cara, o que a verdade reclama. 

Tenho à minha frente duas cartas assinadas pela presidente do Conselho Directivo do Instituto da Segurança Social. Numa, a incompetente presidente comunica a um cidadão (a quem os serviços que dirige reconheceram, anteriormente, isenção legal de contribuir para a segurança social) que lhe foi fixada, oficiosamente, a obrigação de pagar, todos os meses, a quantia de 186,13 euros, por ter tido, em 2010, um rendimento de … 600 euros. Na outra, da mesma bestial natureza, outro cidadão (com actividade legalmente suspensa e reconhecida como tal pela repartição de finanças da sua residência) é informado que a brincadeira a que a senhora preside lhe fixou uma mensalidade de 124,09 euros, por ter tido, em 2010, um rendimento de … 3.975. A primeira vítima pagaria 2.233,56 euros, por ter ganho … 600. E a segunda pagaria 1.489,08, isto é, quase metade do que ganhou, o que, apesar de tudo, a torna credora da arbitrária generosidade oficiosa: 600 pagam 2.233,56, mas 3.975 “só” pagam 1.489,08. É público que foram emitidas milhares de cartas deste teor (outra, denunciada neste jornal, aplicava a mesma chapa de 186,13 euros a um falecido em 1998). Quando a leviandade desta sócia do CDS foi branqueada com uma referência simples “a erro que vai ser corrigido”, foi-se, definitivamente, a confiança no ministro que a tutela, correligionário da mesma agremiação.

O ministro da Defesa foi recentemente à Mauritânia assinar um acordo. Viajou em Falcon. O Falcon avariou. Outro Falcon voou com uma equipa técnica para reparar o primeiro. Quanto custou tudo isto? Para o cidadão que não esqueceu a demagogia da suposta poupança em viagens aéreas, de início de mandato, que acontece à confiança?

Primeiro foi o secretário de Estado da juventude. Agora, foi o próprio primeiro-ministro que instigou milhares de professores a emigrarem. Salazar exportava negros sem qualificação profissional para as minas de ouro da África do Sul. Passos Coelho quer exportar, para qualquer África, jovens qualificados, cuja formação custou milhões. Eis o Estado Novo do século XXI, a passos de coelho. Que vergonha nacional este baixar de braços, esta confissão pública de incapacidade e de desistência, num país fustigado por um saldo populacional em queda alarmante. Não se pode governar promovendo a depressão colectiva e formatando a cabeça dos cidadãos para um futuro de miséria. Tamanha cobardia política arrasta na lama a confiança dos portugueses. 

George Orwell disse um dia que “ver o que está à frente do nariz requer uma luta constante”. Tanto maior, digo eu, quanto mais crescem os narizes dos políticos.

s.castilho@netcabo.pt

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

celebrações de Natal

a prata da casa,
um coro bem ensaiado e convicto,
uns guitarristas .. do melhor! :-)

as tuas melhoras, Otília!

ó Madalena! :-)

um quase fado ..

sábado, 17 de dezembro de 2011

exposições na Esag

Houve-as no 1.º período, abundantes, diversas: de projectos ligados à educação para a saúde, de história, de educação visual, das línguas .. 
E há-as permanentes, atestando glórias passadas e presentes..
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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

crimes contra a Humanidade

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Houve ontem na ESAG um colóquio subordinado ao tema DIREITOS HUMANOS - consignados numa  Declaração Universal  (ver) adotada e proclamada pela resolução 217 A III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.

Um dos sub-temas abordados foi o holocausto nazi, durante a II Guerra Mundial (1939-1945)

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Esta é a minha contribuição para o entendimento do que foi um dos mais bárbaros atentados contra os direitos humanos na história da humanidade.

Aqui deixo, pois, uma lista de filmes e  romances  de visionamento/ leitura - a meu ver, obrigatórios!  (ver links tb. nos títulos)
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  • Judgement at Nuremberg - um filme de 1961 - notável, nomeadamente, por incluir imagens reais - fotografias tiradas por soldados americanos depois da libertação dos prisioneiros nos campos de concentração nazis.


ver também:
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de Richard Zimler: (um judeu americano - autor do celebradíssimo "O Último Cabalista de Lisboa" - que desde os anos(19)90 vive em Portugal, na cidade do Porto
 Entrevista a R. Zimler, a propósito de “Os Anagramas de Varsóvia”
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    The Holocaust- - um artigo muitíssimo completo e interessante (recomendado!)
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    sexta-feira, 25 de novembro de 2011

    “Bunga-bunga” governamental

    jornal Público, 23/11/2011

    por Santana Castilho

    Vão chegar mais oito mil milhões de euros. Para uns, são fruto do sucesso da execução do acordo com a troika. Para outros são um degrau na escada descendente da fatalidade que nos marca. Olhando para fora e para dentro, entendo melhor os segundos. 

    A austeridade fez implodir num ápice, pela via eleitoral, os governos de três países: Irlanda, Portugal e Espanha. E aliada à necessidade de tranquilizar os mercados, testou, poupando o tempo e a maçada da ida às urnas, sem protestos visíveis e com êxito, o caminho perigoso de substituir sem votos os de outros dois: Grécia e Itália. Papademos, o chefe do executivo grego, veio do Banco Central Europeu e da Comissão Trilateral, de David Rockefeller. Tem por isso a confiança dos mercados. Monti, que chefia o governo italiano, conquistou-a enquanto comissário europeu. Ambos passaram pelo Goldman Sachs, como convém. Passos, obedecendo à troika e bajulando Merkel, esforça-se por merecê-la. Nenhum dos três tem, porém, legitimidade democrática para governar. Os dois primeiros por construção. Passos, por acção. Porque tudo o que prometeu e usou para ser eleito pôs de lado e incumpriu. Porque a política, como forma de melhorar a vida dos cidadãos, não é paradigma que o entusiasme. 

    As desilusões e as evidências têm um efeito acumulativo, que afasta a esperança: vi, vezes suficientes, intervenções presidenciais que preteriram o direito dos cidadãos em benefício do desvario do poder; estou ferrado por sucessivas interpretações de juízes do Tribunal Constitucional, doutos que eles sejam, leigo que eu sou, mais concordantes com os interesses das áreas políticas que os indigitaram que com a Constituição que deviam defender; não confio num Parlamento que à saciedade já provou jogar um jogo e não servir um povo, votando como lhe ordenam. Tudo visto, a Democracia e o Estado de Direito estão em licença sabática. Resta que a quarta República lhe ponha cobro. Porque a mãe de todas as crises é a crise de um regime podre. De um regime de contabilistas, manobrado por maçons, irmãos da “Opus Dei” e jogadores da “opus money”. 

    A fixação na contabilidade única está a gerar uma espécie de “bunga-bunga” governamental. O ministro da economia ainda consulta as resmas de gráficos e tabelas que trouxe do Canadá para decidir se caímos para os serviços, se retornamos às batatas e ao mar, ou se voltamos a esgravatar as entranhas da terra à procura de ferro, ouro, gás e petróleo. Com saudades de Manuel Pinho, vaticinou que “2012 vai certamente marcar o fim da crise”. O ministro das finanças faz com a banca a quadratura do círculo: aceita-lhe o liberalismo quando toca a especular e corre a protegê-la quando o jogo dá para o torto. Mantendo esfíngica serenidade, contenta-se com o anúncio da gestão da emergência: mais impostos, mais desemprego, mais afundamento da economia, mais cortes salariais, mais recuo das funções do Estado. Na educação não superior, um trio de múmias governantes afunda o futuro e soçobra incapaz ao CAPI, à ANC, ao PTE, às TIC, às AEC, ao PIEC, PIEF e PREMAC, aos EFA e aos CNO, siglas que não traduzo a bem da sanidade mental dos leitores, mas que designam parte da teia de esquemas e burocracias que não desenredam e tolhem a gestão das escolas. O ministro da pasta admitiu agora fechar escolas independentemente do número de alunos (até aqui o indicador era menos de 21) e disse estar “ a prever encerrar uma parte substancial das mais de 400 que sobraram” (aquelas cujo fim suspendeu no início do mandato). De resto, o corte na educação é tão colossal que nos devolve, em percentagem do PIB, ao clube dos subdesenvolvidos. Exceptuam-se, por crescerem, as verbas para o ensino privado e para as direcções-regionais de educação, cuja extinção foi anunciada, pasme-se. Face a fortes restrições orçamentais, centenas de alunos de comunidades emigrantes estão sem aulas de Português. O Governo pretende suprimir os cursos ministrados fora dos horários escolares. Se se consumar a iniciativa, porque é esta modalidade a mais frequentada, estaremos perante o quase desaparecimento do ensino da língua materna aos luso-descendentes. Só na Europa, estima-se que já tenham sido afectados metade dos cerca de 50 mil estudantes que existiam há um ano. O secretário de Estado do emprego contou no Parlamento uma anedota que fez rir os mais sorumbáticos: disse que o salário mínimo nacional (485 euros mensais) não é baixo. O secretário de Estado do desporto e da juventude, num assomo de patriotismo, convidou os jovens a zarparem do solo pátrio. O secretário de Estado da administração pública anunciou a intenção de mexer nas tabelas salariais dos funcionários públicos. O ministro Gaspar desmentiu-o e chamou-o de especulador público. 

    Simbólicas e absolutas são, afinal, as palavras mágicas que o governante do discurso a 33 rotações soletrou ao retornado de Vancouver, perguntando-lhe, dizem, qual das três não entendia: não há dinheiro! As mesmas que amocharam, conformada, parte da sociedade. Mas que começam a levantar outra parte, que rejeita a suspensão instrumental da Constituição e gritará nas ruas, amanhã, que não aceita o confisco de salários para que o Estado devolva a alguns o que perderam em especulações fracassadas e reponha no balanço da divida o que outros, impunemente, roubaram. Eis o óbvio moral que os ditadores de circunstância fingem não entender, esmagando direitos constitucionais e civilizacionais que tomam por privilégios e ignorando, quando não decretando novos, os verdadeiros privilégios.
    s.castilho@netcabo.pt

    sábado, 19 de novembro de 2011

    Santana Castilho na ESAG

    Foi no dia da Filosofia (17 de Novembro) e destinou-se a professores. Santana Castilho expôs as suas ideias sobre política educativa, apontou caminhos alternativos. Quem o ouviu gostou, ficou para mais uns 'dedos de conversa' com o Professor da Escola Superior de Educação de Santarém. Pena que estivessem a decorrer outras reuniões, que mais professores da nossa escola não tivessem podido ouvi-lo ..






    quarta-feira, 16 de novembro de 2011

    2 canções de intervenção


    .. Martin Luther King Jr, a propósito da atitude de rebeldia de Rosa Parks em 1955:
    "Actually, no one can understand the action of Mrs. Parks unless he realizes that eventually the cup of endurance runs over, and the human personality cries out, 'I can take it no longer.'"- MLK, Stride Toward Freedom, 1958 - fonte
    tradução (livre): de facto, ninguém poderá entender a acção da sra. Rosa Parks (recusar-se a dar o seu lugar a um branco, no autocarro) a menos que se dê conta de que o 'aguentar tudo' é um copo que acabará por transbordar e que chegará o dia em que as pessoas hão-de gritar: "Não aguento mais!"
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    terça-feira, 15 de novembro de 2011

    DIA da FILOSOFIA

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    Comemora-se na ESAG,

    na próxima 5ª feira
    17 de Novembro, o

    DIA da FILOSOFIA


    Haverá sessões para os alunos de Filosofia dos 10.º e 11.º durante a manhã e a tarde e, às 17 horas, uma outra destinada a professores (*) e outros elementos com representação no Conselho Geral - todas, absolutamente a não perder!

    (*) em substituição das reuniões de departamento ou área disciplinar


    COLÓQUIOS - sala E4
    pensar com …
    10. 15 - sessão para alunos de Filosofia - 10º Ano
    Tema: “Filosofia para Crianças”
    Oradora: Dra. DINA MENDONÇA (Universidade da Carolina do Sul)
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    15. 00 - sessão para alunos de Filosofia - 11º Ano
    Tema: “Filosofia e Lógica”
    Oradora: Dra. TERESA MATOS FERREIRA MARQUES (Universidade de Lisboa)
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    17. 00 - sessão para professores e convidados
    Tema: Educação: inverter as políticas que eternizam o caos
    Orador: Dr. SANTANA CASTILHO (Escola Superior de Educação de Santarém)
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    sexta-feira, 11 de novembro de 2011

    Educação, os desígnios de Nuno Crato

    in Público, 9/11/2011

    por Santana Castilho *
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    O DESÍGNIO DE CRATO É CORTAR

    Nuno Crato encheu de nada e de cortes três páginas deste jornal. Lê-lo a 31 de Outubro traveste-lhe a graça para Nuno Cortes. Quando não identifica medidas para cortar, responde que não sabe. Nuno Nada, tão-pouco destoava para sua nova graça. Que desgraça!

    Tirando o desígnio de castrar, despedir e poupar, não há na entrevista a mais ligeira ideia consistente sobre Educação. Perguntado sobre como se vai cumprir a escolaridade obrigatória até aos 18 anos, responde com profundidade: “Está tudo em aberto”. Interrogado sobre a verdadeira grandeza da redução orçamental, riposta com rigor: “Depende do quadro que se leia”. Questionado sobre o número de professores estritamente necessário, que antes havia invocado, é preciso: “É um bocado menos do que temos hoje. Não consigo quantificar”. Solicitado a esclarecer o objectivo que propõe para um novo modelo de financiamento do ensino superior, que acabara de preconizar, repete-se: “Está tudo em aberto”. À insistência dos entrevistadores, que querem conhecer os critérios a incluir no tal modelo, responde filosoficamente: “Vamos pensar nisso”. Quando lhe perguntam se já começou a pagar as bolsas de estudo, é negativamente claro: “ Ainda não”. Quando lhe perguntam se tem ideia de quantos alunos perdem o direito à bolsa, é claro, negativamente: “Ainda não”. 

    “Estamos a estudar”, “estamos a ver”, “estamos a identificar”, “temos de ver” “temos que pensar” e “vamos ter de repensar” são fragmentos frásicos abundantes na entrevista, que ilustram a vacuidade predominante. Mas há passagens concretas, que patenteiam impreparação, ignorância e manipulação da realidade. Passo a fundamentar. 

    Comecemos pela impreparação. Nuno Crato confessa que era inconsciente, quando crítico do anterior poder. Para tentar estabelecer coerência entre o que dizia e o que agora faz, afirma-se fiel aos seus princípios de sempre e deixa implícito que os actos que pratica, que contradizem tais princípios, são ditados por uma realidade que desconhecia. É uma quadratura do círculo, donde emerge impreparação crassa. Vista do lado do crítico, o ministro fica sem crédito. Vista do lado do ministro, o crítico virou a casaca. A seriedade mínima conclui pela implosão recíproca. 

    Passemos à ignorância, com dois exemplos. No primeiro caso, é deprimente constatar o desconhecimento do ministro sobre a gestão do currículo do ensino básico. Nuno Crato assevera que poupou, com a supressão do Estudo Acompanhado, 15 milhões de euros no 2º ciclo e 17 no 3º. Afirma, preto no branco, que “o Estudo Acompanhado era dado por dois professores no 2º ciclo”. Ora o que todos sabemos é que o Estudo Acompanhado continua a existir para o 2º ciclo e é acompanhado pelos mesmíssimos dois professores. Termos em que uma supressão que não existiu, senão na mente capta do ministro, não pode originar 15 milhões de poupança, senão nas virtuais contas deste economista, especialista em Matemática e arauto do rigor. No segundo caso, é embaraçoso ver Nuno Crato referir que a escolaridade obrigatória é de nove anos. Pena que um assessor não tenha tido a oportunidade de o esclarecer que já é de 12.

    Vejamos agora a manipulação da realidade, também com dois, de vários exemplos possíveis:

    1. Nuno Crato deixa cair, com ar dramático: «Quase metade (46,7 por cento) do pessoal da administração central está no Ministério da Educação. É um valor extraordinário. Isso significa que as reduções têm de ser, em grande parte, em pessoal e que têm de se reflectir na educação.» Mas não justifica seja o que for. A Educação tem cerca de dois milhões de utentes directos. Como se comparam estes números com os outros serviços públicos? Como se comparam estes números com dados internacionais? Como se enquadram estes números no que ele, como definidor das politicas educativas, quer do sistema? Sobre isso disse nada. 

    2. Nuno Crato branqueia o quadro da Parque Escolar, qual copista do surrealismo. Revela-se um verdadeiro artista. Diz que a dotação do Orçamento de Estado de 2012 para aquele monstro é zero. E mostra como chega a este zero. Explica, com candura, que mandou “prolongar as obras por mais tempo, de forma a não concentrar todos os custos neste ano”. Esclarece, qual vestal, que 95 milhões de euros são receitas próprias da Parque Escolar, como se não soubéssemos todos que resultam da saloia engenharia financeira que obrigou, por decreto, as escolas a pagar-lhe rendas, que saem, obviamente, do Orçamento do Estado para 2012. E acrescenta que 80 milhões virão de endividamento ao Banco Europeu de Investimento, que não serão pagos pelo condomínio do meu prédio, digo eu. Brilhante. Em linha com o sofisma clássico: “Todo o cavalo raro é caro. Um cavalo barato é raro. Logo, um cavalo caro é barato!” 

    * Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)

    sexta-feira, 4 de novembro de 2011

    Halloween, ESAG, 2011

    só hoje me foi possível fotografá-los ..

    O que se segue é a exposição relativa a uma das actividades do plano anual no âmbito da disciplina de Inglês. São trabalhos realizados pelos alunos mais jovens da nossa escola, dos 7.º e 8.º anos. Os materiais utilizados são muitos e variados, alguns um exemplo de recliclagem artística capaz de fazer inveja a muitos artesãos consagrados!
    Todos, fruto de uma grande imaginação e criatividade. Todos, também, o conseguido-íssimo resultado de um esforço individual e colectivo, de uma saudável cooperação.
    Sobretudo, a evidência do muito entusiasmo que se adivinha ter animado estes jovens, da coragem em exporem as suas criações, a prova-provada da sua generosidade.

    E começo pelo trabalho a que daria talvez o 1.º prémio, fosse esse o caso.. pela criatividade, pelo movimento impresso aos 'personagens', pela variedade de motivos e materiais, pela alegria da cor, o sentido estético perfeito.. e o impagável humor daqueles bonecos - reparem nos narizes e nos oculinhos, nas cabeleiras!

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    uma cruz quase chegando ao céu, uma espécie de maquette armazenada no topo de um armário na sala de professores, ausente da exposição do átrio do pavilhão H, calculo que por falta de expositor que suportasse o seu tamanho..
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    fazendo jus ao 'espírito' do Halloween do século XXI, os horroríficos pormenores:
    a igreja, o cemitério e os fantasmas, a cerimónia macabra, os bruxos e as bruxas ..brrrrrrr
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    a sinistra bengala e o garfo!!, o bruxo-mocho, o yin/yang, a atenção aos pormenores..
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    o caldeirão das poções, e os símbolos maléficos, a suástica nazi, os alfinetes da magia negra ..
    e o contraste c/ as alegres roupagens dos bonecos de trapos, as suas meias e mangas às riscas em infantis rosa, azul, as cabeleiras meio punks,  os impossíveis narizes, as verrugas, os olhinhos da panela!

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    o risonho esqueleto de cabeleira azul ..
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    as velinhas,  a vítima-de-sorriso-ensanguentado, alfinetada-vampirizada, morte-mais-morta ñ há!!
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    Cá fora, no átrio, o espaço pouco, a arte tanta,  
    a dedicação dos nossos jovens alunos ..

    as receitas p/ o dia das bruxas, o castelo do .. Drácula?  ..
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    o encanto desta casa assombrada a fazer lembrar  Van Gogh, os 'friendly half-ghosts' :)
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    as indispensáveis abóboras (algumas já tinham apodrecido) e o zombie ..
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    a querideza daquela casa preta c/ "bâton" de sangue, as teias lá atrás, o fantasminha e o .. Frankenstein?
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    uma galeria de monstros apetecíveis, até o Bart Simpson! :))
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    mais uma mansão muiiito assombrada, o cemitério à porta..
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    e finalmente, a mascote, o lugar assegurado de ano para ano:
    o símbolo-dos-símbolos, com vassoura e tudo!

    uma bruxa deliciosa, meio-feita com pasta de papel
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    E pronto, PARABÉNS aos alunos, às professoras que os orientaram!!
    Até para o ano, 'Halloweeners'!


    quinta-feira, 3 de novembro de 2011

    Halloween - uma evolução histórica

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    É bom de ver, a tradição anglo-saxónica espalhou-se por boa parte do mundo (pelo menos ocidental) e, basicamente, tornou-se num negócio, tendo entretanto perdido qualquer resquício das suas remotas origens.

    Tudo terá começado com o ancestral culto da terra-mãe/deusa dos celtas que habitaram a Gália e as Ilhas Britânicas entre 600 a.C e 800 d. C - e com  o seu festival de Samhain (= o fim do verão), celebrado entre 30 de Outubro e 2 de Novembro. Ao longo dos tempos, a tradição celta e o culto dos druidas (lembram-se do Astérix? Dos filmes Arthur, Excalibur?) vai-se diluindo e incorporando celebrações de diferentes religiões ao sabor de sucessivas conquistas (a invasão romana, por ex., que introduz o cristianismo). Séculos mais tarde, é a emigração, sobretudo irlandesa, que transfere, nomeada e principalmente para os Estados Unidos, a sua cultura e tradições.

    E é precisamente no outro lado do Atlântico, no chamado 'mundo novo', que os ancestrais rituais pagãos do povo Celta (tão bem ilustrados por Marion Zimmer Bradley na poética trilogia "As Brumas de Avalon"), o All Hallow's Evening (véspera do dia de todos os santos) da religião católica  e até o Guy Fawkes Day/Night se vão amalgamar numa cada vez mais híbrida e incaracterística festividade que, com o correr dos tempos, a evolução das tecnologias e o apetite de mercados e consumidores, absorve inexoravelmente, para o agora famoso Halloween do "trick or treat",  uma ilimitada variedade de horrores apimentados pela  imaginação de pop stars, cineastas, argumentistas, etc, e onde cabe, literalmente, tudo!

      Ainda assim e basicamente, nada mais que um convite à festa, uma folgazã (ainda que muiiiiito arrepiante) despedida dos bons tempos do verão, tão defunto, a 31 de Outubro,  como as máscaras com que se disfarçam os  foliões para aterrorizarem os vizinhos ...


      • da wikipedia, uma história do Halloween muito completa, aqui
      um excerto:
      Etimologia (origem + explicação do surgimento da designação 'Halloween')
      Posto que, entre o pôr-do-sol do dia 31 de outubro e 1° de novembro, ocorria a noite sagrada (hallow evening, em inglês), acredita-se que assim se deu origem ao nome actual da festa: Hallow Evening → Hallowe'en → Halloween.
      Outra hipótese é que a Igreja Católica tenha tentado eliminar a festa pagã do Samhain, instituindo restrições na véspera do Dia de Todos os Santos. Este dia seria conhecido nos países de língua inglesa como All Hallows' Eve.
      A relação da comemoração desta data com as bruxas propriamente ditas teria começado na Idade Média no seguimento das perseguições incitadas por líderes políticos e religiosos, que culminavam em julgamentos da Inquisição católica, com o intuito de condenar os homens ou mulheres que fossem considerados curandeiros e/ou pagãos. Todos os que fossem alvo de tal suspeita eram designados por bruxos ou bruxas, com elevado sentido negativo e pejorativo, devendo ser julgados pelo tribunal do Santo Ofício e, na maioria das vezes, queimados na fogueira nos designados autos-de-fé.
      Essa ligação à feitiçaria perpetuou-se e a comemoração do halloween, levada até aos Estados Unidos pelos emigrantes irlandeses (povo de etnia e cultura celta) no século XIX, ficou assim conhecida como "dia das bruxas"...

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      da BBC, uma sucinta explicação para os mais pequenos:
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      Halloween falls on the 31st October of every year and is a time when people dress in scary costumes, go trick or treating and play traditional Halloween games, such as apple bobbing.
      Halloween involves a variety of traditions from different cultures and religions and there are many interpretations of these.    

      HALLOWEEN  na música e nos filmes:
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      um clássico de John Carpenter, na categoria de 'horror movies'
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      Surely one of the top 5 CULT HORROR movies of this century. John Carpenter's "Halloween" is probably standing together with "Friday the 13th" and "Nightmare on Elm Street" in the pantheon of classic cult horror movies.

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      -- no próximo post, fotos desta celebração na ESAG  
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      quarta-feira, 2 de novembro de 2011

      entrevista do ministro da educação

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      Público de 31.10.11

      Contratações de docentes vão ser as "estritamente necessárias"
      Por Clara Viana, João d"Espineye Miguel Gaspar

      Nuno Crato diz que os cortes não são um sinal de "menosprezo pela educação" e que as reduções são, em grande parte, em pessoal

      No próximo ano lectivo chega ao ensino secundário o primeiro grupo de alunos abrangido pela escolaridade obrigatória até aos 18 anos. Num contexto de contenção de custos vai ser possível cumprir este objectivo?

      Está tudo em aberto. Estamos a estudar como será possível prolongar a escolaridade obrigatória com o que isso significa em número de turmas, de alunos, de professores. Não queremos que este prolongamento seja, pura e simplesmente, a continuação do ensino tal como existe hoje. Precisa de ser repensado em termos de oferta profissional. Estamos a ver quais são as possibilidades de diversificar a oferta também para que alguns alunos possam iniciar uma vida profissional ao mesmo tempo que continuam na escola.

      Os cortes propostos para a Educação são mais do que o triplo do previsto no acordo com a troika. Porque é que foram mais longe?

      No memorando há um tecto que é estabelecido a partir da redução do défice e da dívida. Além deste tecto estão identificadas algumas áreas em que devem ser tomadas medidas de racionalização. Mas não está, de forma alguma, explícito ou implícito que, tomadas essas medidas, tudo está feito. Estas medidas são um subconjunto daquilo que é necessário fazer. São o que foi possível identificar na altura, pelo Governo, como sendo obrigatório fazer para atingir o objectivo geral.

      A Educação não deveria ser considerada um sector estratégico e de alguma forma ser poupada a esse tipo de cortes?

      Os sacrifícios têm de ser repartidos por todos. É verdade que a educação é um sector estratégico, mas também a saúde ou a segurança pública. Quase metade (46,7 por cento) do pessoal da administração central está no Ministério da Educação. É um valor extraordinário. Isso significa que as reduções têm de ser, em grande parte, em pessoal e que têm de se reflectir na educação. Não há nenhum menosprezo pela educação.

      Qual é a ordem de grandeza da redução da dotação do ministério em 2012? É de 400, 600 ou mais de 800 milhões de euros?

      Depende do quadro que se leia. Estamos a falar de 1500 milhões de euros. Temos três vectores. 644 milhões que derivam dos cortes dos subsídios de férias e de Natal. Depois temos 268 milhões que são aquilo que se pode chamar uma redução prudencial das receitas consignadas. Houve em 2011 uma sobrestimação da capacidade de obter fundos comunitários que nós agora não fazemos. E depois há 600 milhões de medidas de racionalização, das quais 150 milhões para o superior e 450 para o básico e secundário.

      Uma das medidas previstas é a reorganização e racionalização dos currículos. Quais são os princípios que vão presidir a essa reorganização?

      A lógica geral é independente desta lógica monetária. Defendo, independentemente de todos estes cortes, que é necessário reduzir o número de disciplinas no ensino básico, que é necessário concentrar nas disciplinas essenciais, que é necessário eliminar a dispersão na oferta curricular, que é necessário reforçar o Português e a Matemática, que é necessário dar mais atenção à História, à Geografia, às Ciências, ao Inglês. O princípio da reorganização é este: como é que vamos conseguir que os jovens saibam mais nestas questões centrais?

      Mas esta reorganização também é apresentada como uma medida de poupança.

      Também é uma medida de poupança. Por exemplo, a eliminação de Área de Projecto no 2.º e 3.º ciclo permite uma poupança de 50 milhões.

      Em professores?

      Em deslocamento de professores para outras áreas. São números brutais quando multiplicados por cinco mil escolas, 140 mil professores. É altura de se falar verdade e começar a ver que tudo isto tem um efeito brutal sobre o contribuinte. Num momento que estamos a tentar racionalizar tantas coisas, temos também de pensar no ensino o que é essencial. Mas claro que não estão em causa os lugares dos professores dos quadros. Não estamos a pôr nada disso em causa. Mas temos de tomar uma série de medidas para que apenas sejam contratados, para além dos professores dos quadros, aqueles que sejam estritamente necessários [serão cerca de 28 mil os professores que não estão nos quadros].

      Está a dizer que temos professores a mais?

      É preciso dizer isto com clareza: não estamos em época de contratar mais professores do que o estritamente necessário. Isto significa que vamos ter uma grande contenção na contratação de professores.

      O número de disciplinas vai ser reduzido?

      Existem duas medidas principais que estão em estudo neste momento. Uma diz respeito à disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no 9.º ano de escolaridade. Nesta idade, a maioria dos jovens já domina os computadores perfeitamente e é questionável que seja necessário ter uma disciplina de TIC no 9.º ano.

      A outra tem a ver com o chamado par pedagógico em Educação Visual e Tecnológica (EVT). Percebo que seja bom ter dois professores na sala de aula, mas não estamos em época de o fazer. Estamos em época de pensar se não se deverá separar curricularmente a Educação Visual e a Educação Tecnológica e os professores alternarem a docência.

      O actual ministro Paulo Portas foi um dos que mais se insurgiram contra o fim do par pedagógico em EVT quando isso foi proposto pela sua antecessora.

      Não me compete estar a defender ninguém, mas nós não estamos a pensar nos termos anteriores. Porque nos termos anteriores havia um currículo, um programa, que incluía o par pedagógico. E havendo um programa que o incluía, não fazia sentido acabar com ele. Estamos a pensar é numa reformulação curricular que permita ter as duas disciplinas em separado.

      Na sua opinião, qual é então o número de professores estritamente necessário?

      É um bocado menos do que temos hoje. Não consigo quantificar. Apesar de todo o esforço que fizemos para racionalizar o recrutamento de professores, temos no sistema 1858 professores com horários zero. Era o número no final de Setembro. Isto é preocupante. Significa que há alguma insuficiência do sistema e não estamos em condições para poder ter estes 1858 professores sem horário.

      Voltando ao corte dos 600 milhões de euros na despesa: falou de 50 milhões na Área de Projecto. Como é que chegamos aos 450 milhões no ensino básico e secundário?

      Há uma série de medidas já identificadas de cerca de 100 milhões. Há uma série de medidas estudadas de outros 100 milhões. Há cerca de 150 milhões de fundos comunitários que estamos a tentar captar para o ensino profissional, fazendo a substituição de OE por estes fundos. E há 100 milhões de medidas que estamos a identificar.

      Qual a poupança com a supressão de Estudo Acompanhado?

      No 3.º ciclo é de cerca de 17 milhões. No 2.º ciclo, cerca de 15 milhões. Mas substituímos estas áreas [Área de Projecto e Estudo Acompanhado] pelo reforço de Português e Matemática, o que representa um acréscimo de despesa de 40 milhões. Foi obtida alguma poupança, mas sobretudo reforçaram-se as disciplinas fundamentais. O Estudo Acompanhado era dado por dois professores no 2. º ciclo. Uma turma de Matemática tem um professor. Uma hora de Estudo Acompanhado custava o dobro de uma hora de Matemática. Se utilizarmos de forma mais racional os professores do quadro, estamos a proteger o seu emprego e a evitar contratações suplementares.

      Na proposta de OE defende-se a racionalização da rede escolar, aproveitando os recursos existentes. Isto significa que vão alargar os contratos de associação com escolas particulares?

      Gostaríamos muito de ter um alargamento dos contratos de associação e de autonomia. Ao contrário de outras pessoas, não temos nada contra o ensino privado. Não vamos tentar suprir necessidades que já estão resolvidas, e bem, com o ensino privado. É uma função do Estado facultar o ensino a todos, mas isso também se pode fazer com os contratos de associação. Têm as mesmas obrigações das escolas públicas, acolher todos os alunos gratuitamente, e alguns têm resultados fantásticos.

      Ao longo deste ano vamos avaliar os contratos de autonomia que foram feitos [com 22 escolas públicas] e estudar como esta pode ser prolongada e alargada. Um dos vectores fundamentais do programa do Governo, e daquilo que esta equipa quer fazer, é dar mais autonomia às escolas.

      Outro factor fundamental é que os alunos saibam mais. Não é admissível um aluno chegar ao 9.º ano, ao fim da escolaridade obrigatória, e ter dificuldade em ler um jornal. Não podemos pactuar com esta situação.

      No orçamento está inscrita uma poupança de 54 milhões com a rede escolar. Quantas escolas do 1.º ciclo vão ser encerradas?

      Vamos tentar encerrar mais umas 300. Digo tentar, porque isto não se faz por decreto. É um processo em diálogo com as autarquias.

      As autarquias também vão ser objecto de cortes. Algumas já alertaram que vão cortar, por exemplo, na área do transporte escolar. A oferta de serviços escolares não poderá ser afectada?

      [suspiro com ar resignado] As autarquias estão com grandes dificuldades, sabemos disso. Herdámos uma dívida para as autarquias que estamos a tentar identificar e resolver. Vai ser um processo demorado. Nas actividades extracurriculares, que são da responsabilidade das autarquias, temos de ver também o que é essencial e o que é acessório. Se é só para manter as crianças nas escolas para ajudar os pais enquanto estão no trabalho, é uma coisa. Mas se é para lhes dar alguma componente educacional, então temos que pensar o que podemos fazer melhor.

      E vai continuar o processo de fusão de agrupamentos?

      O processo foi parado porque estava a ser conduzido de forma um pouco desconexa. É um processo que faz sentido quando permite uma melhor coordenação entre escolas. Vai continuar, mas com calma.

      "Há de facto um choque com a realidade"
      Nuno Crato diz que a sua acção é coerente com o que sempre defendeu
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      A suspensão dos prémios de mérito dos alunos do secundário não está em contradição com o que sempre defendeu?

      Não. Isso foi muito empolado e houve uma grande falha de comunicação. Nós não suspendemos os prémios de mérito. Queremos mesmo generalizá-los. O que achámos é que não fazia sentido retribuir o mérito com dinheiro. Não é a mensagem certa. As mensagens certas são duas. Primeira: és um bom aluno, mereces ser reconhecido como tal com um diploma. É o símbolo do orgulho que a sociedade tem em ti. Segunda: quem recebe o dinheiro deve ser apoiado mas face a programas específicos. Queremos apoiar quem precisa de dinheiro para prosseguir os seus estudos. As bolsas de acção social do ensino superior são a expressão disso.

      Como viu a sociedade civil a mobilizar-se para pagar esses prémios?

      Bem.

      Mas era uma contestação à posição do ministério.

      Houve casos em que isso aconteceu, mas a contestação em democracia é normal. No entanto, houve quem entregasse os prémios e dissesse que não era uma contestação ao ministério, como a Ordem dos Engenheiros.

      Essa falha de comunicação que mencionou tem a ver com a máquina do ministério?

      É uma máquina tão grande...

      O que vai acontecer ao programa Novas Oportunidades?

      A Agência Nacional de Qualificação, que agora vai mudar de nome e ser reorientada para a formação profissional de jovens, teve coisas positivas e negativas. É negativo estar a distribuir diplomas como que a vulgarizar algo que deve estar associado claramente à competência. Claro que é importante reconhecer as capacidades dos adultos.

      Como é que o ministro Nuno Crato convive com o crítico da Educação com o mesmo nome?

      Convivo bem [risos]. Eu acho que há uma coerência. O que há de novo em mim é uma consciência das dificuldades do país que eu não tinha, e que o país não tinha, há um ano. A preocupação com a qualidade do ensino, com o conhecimento, com o mérito, com a avaliação, mais exames e mais rigorosos, tudo isso é exactamente a mesma coisa.

      Não teve um choque com a realidade que tenha mudado a sua perspectiva ao perceber que nem sempre se consegue fazer tudo aquilo que queremos...

      Isso de certeza. Nem sempre conseguimos.

      Não se vê como um mero executante dos cortes, como já se diz em alguns blogues de docentes?

      Eu tenho que fazer as duas coisas. Tenho procurado fazer melhor com menos. É difícil mas vamos conseguir.

      Está arrependido de ter aceite o desafio?

      [risos] Não, não estou. Mas há de facto um choque com a realidade e com a tarefa imensa que tenho pela frente e que, como dizem os americanos, eu recebo com humildade.

      Quer ficar até ao fim da legislatura?

      Claro. Quando assumimos um compromisso destes é para toda a legislatura. Não fazia sentido assumi-lo de outra maneira.

      Obras da Parque Escolar vão ser reavaliadas
      Ministro garante que a dotação do Orçamento do Estado para a empresa é zero
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      Já sabe o que vai fazer à Parque Escolar?

      A Parque Escolar está a ser auditada pelo Tribunal de Contas e pela Inspecção-Geral de Finanças. O problema é o seguinte: deixada em roda livre, iria conduzir a um endividamento de 2500 a 3000 milhões de euros, que é uma coisa brutal. O que fizemos? Dissemos à Parque Escolar para suspender todos os concursos e para reavaliar os custos nas obras que estão em curso em 72 escolas. Seria completamente disparatado pará-las, mas é preciso procurar soluções mais económicas e eliminar partes não-essenciais da construção. Por exemplo, se estavam previstos dois auditórios, ver se é possível construir só um.

      E prolongar as obras mais tempo, de forma a não concentrar todos os custos neste ano.

      Faz ou não sentido haver uma empresa como a Parque Escolar?

      Não vejo mal nenhum no modelo da empresa. O que vejo mal é partir-se do princípio de que o dinheiro é infinito e que se fazem obras luxuosas sem atender às limitações financeiras do país. Mas, neste momento, não há nenhuma verba para a Parque Escolar no orçamento de 2012. Existem receitas próprias de cerca de 95 milhões de euros: de rendas, que são um pagamento que se tem de fazer, e de outras receitas da empresa, O investimento do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional é de 333 milhões e 80 milhões de endividamento ao Banco Europeu de Investimento. Tudo isto faz 508 milhões. Mas a dotação do Orçamento do Estado é zero.

      Modelo de financiamento para o ensino superior vai ser repensado no próximo ano
      Por Clara Viana, João d"Espineye Miguel Gaspar
      Ministro diz que há universidades a mais e que as fusões são um caminho para conseguirem ser competitivas a nível internacional
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      Qual é o valor da redução das transferências do Orçamento do Estado para as universidades e politécnicos?

      A redução anda à volta de 100 milhões (8,5%). O montante das transferências será de cerca de 861 milhões. Para as universidades, incluindo as três que são fundações, 596,1 milhões; politécnicos 240,1 milhões e para as escolas superiores não-integradas 24,3.

      Os reitores e presidentes dos politécnicos estão muito preocupados com a dimensão dos cortes. O presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, António Rendas, afirma que Portugal vai perder competitividade com o resto da Europa. O reitor da Universidade de Lisboa, Sampaio da Nóvoa, diz que o "corte brutal" vai pôr em causa o funcionamento e a autonomia das universidades. No politécnico, há escolas que já fecharam e outras estão a caminho...

      Compreendo que os reitores defendam as suas universidades. É perfeitamente legítimo e normal. Mas o que estamos a pedir a todos é que participem neste esforço conjunto. E julgo que as universidades têm demonstrado grande capacidade de inovação, de resistência, de funcionar mais com menos recursos e de obter mais receitas próprias. É preciso alguma racionalização de recursos, a par do encerramento de algumas ofertas e de pólos, que possam revelar-se menos necessários.

      Há universidade e politécnicos que têm ofertas que não são necessárias?

      Há algumas ofertas e alguns pólos que podem ser racionalizados.

      Vai tomar a iniciativa de promover essa racionalização?

      Já falámos várias vezes com os reitores e continuaremos a fazê-lo e a acompanhar os seus esforços. Há a autonomia universitária mas queremos dialogar com os reitores para identificar esses casos e tentar ver como podemos ter uma política de afectação de recursos que melhore o essencial da oferta, mesmo que algumas coisas tenham de ser sacrificadas.

      Defende a fusão de universidades?

      É um processo interessante. Em Lisboa está a decorrer uma tentativa interessante [Universidade Técnica e Universidade Clássica] que é o um protótipo. Temos duas universidades que muito facilmente se fundem, porque têm ofertas diferentes. O que se está a passar em Lisboa insere-se num movimento geral de reforço da massa crítica nas universidades. Estamos a viver um processo de competição a nível mundial porque a oferta de ensino é vista também como capacidade de exportação. O ensino é um bem transaccionável.

      Por isso é que o presidente do CRUP diz que Portugal pode perder competitividade a nível europeu...

      Estou a falar da fusão de universidades. O movimento de agrupamento das universidades não permite situá-las melhor nesta concorrência internacional e na procura dos grandes projectos internacionais. Para concorrer é necessário uma massa crítica que dê confiança e garantias aos parceiros internacionais e contratantes de que a universidade vai conseguir cumprir esse contrato. Mas ninguém defende cortes. Este é o orçamento possível e acarreta sacrifícios que tentamos minorar e repartir da melhor maneira possível.

      O reitor de Lisboa diz que os cortes são de 25 por cento.

      O corte líquido das transferências é de 8,5%. A esse corte podem-se somar outras parcelas. Mas há uma coisa importante que conseguimos e que corresponde às aspirações das universidades: na proposta de Orçamento do Estado conseguimos inserir a isenção das cativações sobre as receitas próprias. Isto é muito importante, porque existindo cativações nas receitas próprias há um menor incentivo à sua captação através de contratos de investigação, de projectos internacionais ou de consultoria. Há outro aspecto, quase semiótico, mas que é importante: quando a universidade tem uma certa dimensão, aparece mais bem situada nos rankings. O facto de termos poucas universidades de grande dimensão pode ser ultrapassado com estes movimentos.

      Temos 15 universidades. Qual acha que deveria ser o número para um país como Portugal?

      Quinze parece-me demais. Mas não quero avançar um número.

      O modelo de financiamento do ensino superior vai ser alterado?

      Este ano fizemos o que era possível com o tempo que tínhamos. Foi olhar para a execução orçamental do ensino superior e distribuir o dinheiro pelas universidades de acordo com a mesma fórmula do ano passado. Seria completamente disparatado em um mês ou dois tentar repensar a fórmula de distribuição de dinheiro pelas universidades. Mas vamos ter de repensar isso tudo para o ano.

      Com que objectivo?

      Está tudo em aberto.

      Que critérios é que poderão entrar?

      Vamos pensar nisso.

      Já começaram a pagar as bolsas de estudo?

      Ainda não.

      Tem ideia de quantos alunos perdem direito à bolsa com o novo regulamento?

      Ainda não. O novo regulamento foi feito de forma a acomodar aproximadamente o mesmo número de alunos. E a acomodar as mesmas necessidades de uma forma mais justa. Não é um regulamento perfeito. Mas corrigimos algumas imperfeições.

      Chegou a dizer que o valor da bolsa máxima se mantinha. Há quem diga que muitos alunos vão passar a receber 11 indexantes dos Apoios Sociais e não 12 como no anterior regulamento.

      É natural que haja estudantes que passem a receber menos e outros que passem a receber mais. Não há um modelo perfeito. O valor mais alto de bolsa paga mantém-se o mesmo.

      Já está concluída a investigação da Inspecção-Geral da Educação ao caso dos alunos de Medicina que entraram no ensino superior pela via do ensino recorrente?

      A inspecção está a ser finalizada e os resultados serão conhecidos em breve, mas ficou claro que é preciso alterar as regras de acesso ao ensino superior. Estão a ser estudadas algumas mudanças, que entrarão em vigor progressivamente nos próximos anos.


      Ministério quer manter compromissos quanto às bolsas na Ciência
      Governo tenciona canalizar fundos comunitários para o sector
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      Há bolseiros da Fundação para a Ciência e Tecnologia que se queixam de atrasos no pagamento das bolsas de investigação. O número de bolsas vai diminuir, tendo em conta que o orçamento da FCT caiu para os níveis de 2006?

      Não quero adiantar coisas concretas sobre isso antes do Orçamento do Estado ser aprovado. O que posso dizer é que vamos procurar sobretudo duas coisas: manter os compromissos que temos tanto em bolsas como em contratos, parcerias, racionalizando e renegociando alguns; e vamos procurar continuar a apoiar e reforçar o apoio à excelência. Estamos a privilegiar o apoio aos cientistas, aos centros com classificação internacional de excelência. São essas áreas que no fundo puxam pelas outras e que nos permitem competir internacionalmente. Estamos a procurar que a Ciência seja particularmente protegida e que o investimento na melhor ciência não seja prejudicado.

      Os cortes não põem em causa esse objectivo?

      Com menos recursos podemos proteger as coisas essenciais na Ciência. Estamos a fazer um grande esforço para a substituição de fundos nacionais por comunitários. Julgo que vamos ultrapassar este momento difícil e manter o nível de apoio à Ciência. É uma área que foi muito protegida nos últimos 20 anos e que teve um carinho especial de sucessivos Governos. É uma área em que se fizeram grandes progressos e progressos sustentados. Há outras áreas em que se fizeram progressos, mas não foram sustentados.

      sexta-feira, 21 de outubro de 2011

      do verso e da prosa

      ..
      ao contrário do A.O. (e eu gosto de reticências só em duplo, assim .. )


      Bernardo Soares
      Prefiro a prosa ao verso
      retirado daqui: http://arquivopessoa.net/textos/4527

      Prefiro a prosa ao verso, como modo de arte, por duas razões, das quais a primeira, que é minha, é que não tenho escolha, pois sou incapaz de escrever em verso. A segunda, porém, é de todos, e não é - creio bem - uma sombra ou disfarce da primeira. Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte.

      Considero o verso como uma coisa intermédia, uma passagem da música para a prosa. Como a música, o verso é limitado por leis rítmicas, que, ainda que não sejam as leis rígidas do verso regular, existem todavia como resguardos, coacções, dispositivos automáticos de opressão e castigo. Na prosa falamos livres. Podemos incluir ritmos poéticos, e contudo estar fora deles. Um ritmo ocasional de verso não estorva a prosa; um ritmo ocasional de prosa faz tropeçar o verso.

      Na prosa se engloba toda a arte - em parte porque na palavra se contém todo o mundo, em parte porque na palavra livre se contém toda a possibilidade de o dizer e pensar. Na prosa damos tudo, por transposição: a cor e a forma, que a pintura não pode dar senão directamente, em elas mesmas, sem dimensão íntima; o ritmo, que a música não pode dar senão directamente, nele mesmo, sem corpo formal, nem aquele segundo corpo que é a ideia; a estrutura, que o arquitecto tem que formar de coisas duras, dadas, externas, e nós erguemos em ritmos, em indecisões, em decursos e fluidezas; a realidade, que o escultor tem que deixar no mundo, sem aura nem transubstanciação; a poesia, enfim, em que o poeta, como o iniciado em uma ordem oculta, é servo, ainda que voluntário, de um grau e de um ritual.

      Creio bem que, em um mundo civilizado perfeito, não haveria outra arte que não a prosa. Deixaríamos os poentes aos mesmos poentes, cuidando apenas, em arte, de os compreender verbalmente, assim os transmitindo em música inteligível de cor. Não faríamos escultura dos corpos, que guardariam próprios, vistos e tocados, o seu relevo móbil e o seu morno suave. Faríamos casas só para morar nelas, que é, enfim, o para que elas são. A poesia ficaria para as crianças se aproximarem da prosa futura; que a poesia é, por certo, qualquer coisa de infantil, de mnemónico, de auxiliar e inicial.

      Até as artes menores, ou as que assim podemos chamar, se reflectem, múrmuras, na prosa. Há prosa que dança, que canta, que se declama a si mesma. Há ritmos verbais que são bailados, em que a ideia se desnuda sinuosamente, numa sensualidade translúcida e perfeita. E há também na prosa subtilezas convulsas em que um grande actor, o Verbo, transmuda ritmicamente em sua substância corpórea o mistério impalpável do universo.


      Livro do Desassossego, por Bernardo Soares. (18-10-1931)
      Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.


      *

      Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças.
      Bernardo Soares 




      Fernando Pessoa, Carta a Adolfo Casais Monteiro
      Lisboa, 13 de Janeiro de 1935
      “O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas cousas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual […]”
      foto e texto retirado daqui 
      ..