sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Rosa Lobato Faria, in memoriam

Nenhum olhar inaugura a manhã
nenhum voo risca de branco
a solidão do horizonte
nenhum grito perturba
a rumorejante confissão das árvores

A tua ausência enche toda a paisagem
é a punição da minha culpa
de não saber amar-te
Se eu tivesse dito corpo
se eu tivesse desenhado asas
na pele dos teus ombros
Se eu tivesse sido gruta sede pétala
a manhã nasceria intacta e solidária
carregada de pássaros e olhares claros
Mas eu perguntei alma
e ganhei uma manhã desolada
que chove a tua ausência
sobre o meu irremissível equívoco.

Rosa Lobato Faria, in Revista de Cultura - Mealibra

A escritora (poeta e romancista) e actriz nasceu em Lisboa em abril de 1932. O seu primeiro romance, "O Pranto de Lúcifer", foi editado em 1995, mas publicara já antes vários volumes de poesia - como "Os Deuses de Pedra" (1983) ou "As Pequenas Palavras" (1987). O essencial da sua poesia está reunido no volume "Poemas Escolhidos e Dispersos" (1997). Em 1999, na ASA, publica "A Gaveta de Baixo", um longo poema inédito acompanhado por aguarelas do pintor Oliveira Tavares.


Como romancista publicou ainda "Os Pássaros de Seda" (1996), "Os Três Casamentos de Camilla S." (1997), "Romance de Cordélia" (1998), "O Prenúncio das Águas" (1999, que foi Prémio Máxima de Literatura em 2000) e "A Trança de Inês" (2001). Escreveu também "O Sétimo Véu" (2003), "Os Linhos da Avó" (2004), "A Flor do Sal" (2005), "A Alma Trocada" (2007) e "A Estrela de GonçaloEnes" (2007), além de ter assinado vários livros infantis. Os dois primeiros romances tiveram tradução na Alemanha e "O Prenúncio das Águas" foi publicado em França pelas Éditions Métailié. O seu último livro, "As Esquinas do Tempo", foi publicado em 2008 pela Porto Editora.  fonte

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